Café dos Cole #7

, em domingo, 18 de dezembro de 2011 ,
Parte 1 

Mais do Café escrito pelo Val Jr.

"Apoiava o rosto na palma esquerda, analisando criteriosamente o desenho do seu rosto. Não a decoração do Café, o papel de parede delicado, as mesas finas, os sofás ou o carpete escolhidos a dedo antes mesmo que o gerente atual, Kyoya, assumisse o lugar. Como tinha essa informação? Se-gre-do.
No momento, estava mais interessado no se-gre-do do rosto de Valentina. Porque, obviamente, uma jovem de distinta estirpe deve guardar segredos do amor e do...
- O que está dizendo? – interrogou uma carrancuda Valentina, quem sabe um pouco ofendida com este comentário involuntário.
“Comentário involuntário? Ah não, fiz de novo...”, pensou Adam. Virou um pouco mais do café preto com chantilly transbordando. Verbalizar pensamentos para quê?
- Perdão, senhorita... Devaneios de um escritor em decadência, em busca do que o mundo pode oferecer...
Os olhos de mel de Valentina estavam, talvez, fazendo-lhe algum mal. Por quê? Não era de se intimidar por mulheres de coragem e espírito, únicas, não pelas vestimentas medievais, ou o rabo-de-cavalo caindo pela cintura, ou o corpete destacando uma juventude desafiadora e, quem sabe, sonhadora. Deve ser isso, o sonho. Valentina observava Adam e o local com comedida distância e parecia despertar em susto quando algum pensamento escapava pelos lábios do escritor.
- Escritor em decadência? Fracasso para aqueles que buscam somente a vitória. – Valentina mediu novamente o açúcar e bateu delicadamente uma colher de prata (legítima, o Café não trabalha com quinquilharias!) nas bordas da xícara. – São as suas experiências que devem ser contadas, não o final glorioso, tão distante e inatingível. Não acha?
Adam apenas encarou Valentina por cima da borda de sua xícara. O café estava acabando. O final não está mais tão longe assim, querida. Medidas emergenciais seriam necessárias em breve.
Para que não descarrilhasse aquele diálogo camarada (embora não pudesse ver que Aninha se remexia com pequenos gritos de fofura do outro lado do balcão principal, ou que Camila encarava-a encantada e curiosa, ou que mais alguém nos sofás ali perto estivesse pensando algo além de “camarada”), Valentina prosseguiu:
- E sobre o que gosta mais de escrever, senhor... Adam?
- Segredos. As pessoas são movidas por forças mágicas desde antes do seu nascimento, um dos maiores segredos da Humanidade. Por mais que encontrem explicações para quase tudo, sempre há um encanto no fato de existir. Um encanto, um segredo. Não acha?
Valentina apenas encarou Adam por cima da borda de sua xícara. O café estava acabando e aquele escritor estava claramente interessado por algo que não podia acessar. Segredos de sua vida. Será que ele podia ver através de seu espírito com aqueles olhos verdes, olhos cor de mel? Medidas emergenciais deveriam ser tomadas... agora.
- Por favor! – os dois clientes ergueram as mãos em uníssono. Nenhum deles mostrou aparente constrangimento (talvez porque preferiram não pensar que o outro fizera a mesma coisa). Apenas as garotas gritaram baixinho de excitação e foram atendê-los. Romances de eras diferentes são sempre bem-vindos no nosso Café, não acha?
Subitamente, como uma força do destino a interromper o “camarada” clima, as portas do Café se abriram antes que ela irrompesse. Ciel Phantomhive sorriu discretamente em uma mesa próxima.
- Ah, não... – recita o cozinheiro atrapalhado, segurando uma travessa com todas as forças."

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