#70 - Cidade dos Ossos - Os Instrumentos Mortais - Cassandra Clare

, em quinta-feira, 28 de junho de 2012 ,
Editora: Galera Record
Ano: 2011
Páginas: 459

Sinopse: Um mundo oculto está prestes a ser revelado... Quando Clary decide ir a Nova York se divertir numa discoteca, nunca poderia imaginar que testemunharia um assassinato - muito menos um assassinato cometido por três adolescentes cobertos por tatuagens enigmáticas e brandindo armas bizarras. Clary sabe que deve chamar a polícia, mas é difícil explicar um assassinato quando o corpo desaparece e os assassinos são invisíveis para todos, menos para ela. Tão surpresa quanto assustada, Clary aceita ouvir o que os jovens têm a dizer... Uma tribo de guerreiros secreta dedicada a libertar a terra de demônios, os Caçadores das Sombras têm uma missão em nosso mundo, e Clary pode já estar mais envolvida na história do que gostaria.



(Essa review não explorou nenhuma parte crucial da história para evitar spoilers. Estou muito orgulhosa de mim mesma, ha!)

Leio textos da Cassandra Clare desde que ela era Cassandra Clare do FanFiction.Net, criadora da série Draco - que, por sinal, ainda considero uma das melhores fanfictions do universo Harry Potter, mesmo tendo sido escrita antes da publicação de A Ordem da Fênix. A competência dela como escritora já era bastante óbvia naquele tempo, e lembro de ter comentado com minhas amigas pottermaníacas como gostria de vê-la publicando ficção original, no futuro.

Parece que o Anjo Raziel disse Amém, nessa hora, porque tive a agradabilíssima surpresa de descobri-la se aventurando como autora profissional logo no início da série que a tornou mundialmente famosa: Os Instrumentos Mortais (achei o nome meio cliché, e muito provavelmente influência dos editores para tornar a  história mais acessível, mas existem piores).

Clare planejou escrever uma trilogia por sinal, esse negócio de trilogia está pandêmico, não é?, mas o sucesso foi tanto que a mulher já refez essa conta e incluiu mais três livros, sem mencionar a prequel. O primeiro deles, City of Bones (cuja tradução literal é mesmo Cidade dos Ossos, para nossa alegria), introduz os leitores ao universo sobrenatural que se oculta de nós, meros mundanos, por trás do véu da ignorância.

A cidade de Nova York, onde se passa boa parte do enredo, está repleta de seres fantásticos que nunca saem de moda: fadas, lobisomens, vampiros, demônios... Aliás, pontos para a autora pela sagacidade, já que, ao invés de focar em uma só "espécie", como é o caso da maioria dos livros YA sobre o sobrenatural (série Crepúsculo, Beijada por um Anjo, House of Night, por aí vai), Cassandra teceu um mundo onde pode dar a importância que quiser a uma variada gama de criaturas sem qualquer prejuízo à lógica de sua história. Provoca a mesma sensação que se tem ao ler Harry Potter, quando J.K. Rowling pega uma lenda comum do folclore mundial e a torna sua ao incluí-la na mitologia potteriana.

Um fator importante para manter essa festa de Halloween equilibrada é a existência dos Caçadores de Sombra (Shadowhunters, no original); um grupo de caçadores do sobrenatural para nem mesmo os irmãos Winchester botarem defeito. São organizados quase militarmente, treinados desde a mais tenra idade, e com uma boa vantagem sobre humanos normais: todos são nefilins, isto é, "descendentes" do Anjo.


A protagonista de Cidade dos Ossos, Clarissa Fray, pensava não ter nada a ver com tudo isso. E tinha quinze anos de vida normal, sem demônios ou vampiros ou o que seja, ajudando-a a acreditar nisso. Entretanto, tudo mudou quando ela viu um trio de adolescentes matando um demônio, evento que escancarou o destino dela para a vida paralela dos fenômenos sobrenaturais. O que foi um enorme empecilho para a moça, que só queria curtir suas férias saindo por aí com Simon, sem melhor amigo (muito) nerd (e fofo), ou participando de seu cursinho de tische.

Talvez a ideia de "garota normal participa de acontecimento anormal e aí deixa de ser normal" esteja muito batida, mas a forma como Clare introduziu a situação foi muito fluida e lógica. Melhor ainda, a construção dos relacionamentos na história também seguiu essa linha. Nada de amizades eternas construídas em cinco dias úteis (estou olhando pra você, House of Night!) e nada de amores avassaladores à primeira vista. Muito pelo contrário, os Lightwood passam 70% do livro desconfiando de Clary, e os outros 30% tratando-a como uma newbie sem noção. Isabelle, sendo a única mulher em uma casa cheia de homens, logo ressente a intrusão de uma nova garota no Clube do Bolinha, independente das circunstâncias. Seu irmão, Alec, é totalmente contra a presença de Clary em meio à sua família e, em especial, perto de seu parabatai.

E Jace.

Certo, vamos falar de Jace. A primeira coisa que eu percebi lendo esse livro foi que Jace tinha muuuuito do Draco Malfoy da série Draco: loiro, bonito, bad boy, com uma infância que faria a alegria eterna de um psicanalista. Ou seja, o herói atormentado que todos nós amamos. Muitos críticos acharam esse auto-plagiarismo uma falha na composição da autora, embora eu, particularmente, tenha a-do-ra-do. O Draco Malfoy de Clare, apesar de essencialmente distinto da personagem de J.K. Rowling, era um ÓTIMO personagem. Ficaria condenado a uma eternidade de confinamento em uma fanfiction se sua alma não tivesse sido transplantada em Jace.

O relacionamento de Clary e Jace foi escrito de forma bem realista - um bálsamo diante de tantas histórias de amor imediato que andam pipocando nos romances YA. Inicialmente, a menina fica encantada com aquele menino charmoso e lindo, com pose de bad boy, como qualquer garota adolescente ou não ficaria. Jace, por sua vez, fica muito interessado naquela pessoa com um pé em dois mundos. E não machuca nada o fato dela parecer uma fadinha ruiva, obviamente.

Então, rola uma atraçãozinha entre eles que, inicialmente, é só isso mesmo. O que faz a coisa crescer fora da proporção é o fato de ambos terem pouco tempo para lidar com essa fagulha de sentimento, especialmente porque praticamente todos os conflitos da história parecem ir contra essa paixonite. O que, obviamente, faz com que os dois se interessem ainda mais um pelo outro, a ponto de começarem a se apaixonar de verdade.
Sabe, Romeu e Julieta? O proibido é mais gostoso? A grama do vizinho é mais verde? Pois é.

Para quem já cansou desses romances Nissin Miojo (pronto em três minutos, sacou?), essa é uma viagem agradável. A história não gira em torno do romance, considerando que a mãe da personagem principal é sequestrada por demônios enquanto a própria Clary se torna alvo constante de ataques sobrenaturais ao tentar encontrar sua progenitora, para a alegria dos caçadores de sombras envolvidos.

Por sinal, a mitologia dos shadowhunters é uma delícia, desde o uso de runas sobre a pele para garantir efeitos de cura, força extra ou outros melhoramentos, até a forma como e organizam pelo mundo. O conceito de parabatai, por exemplo, é lindo, embora não tenha funcionado tão bem em Instrumentos Mortais quanto funciona na pré-série, Peças Infernais.

(Sobre isso, a Clare tem imensa simpatia pelo público LGBT e coloca, sem medo, personagens homossexuais no grupo de protagonistas. Imagino que a explicação das duplas parabatai em Cidade dos Ossos tivesse a intenção de incendiar a imaginação boy love de uma parte do público alvo, mas a dinâmica Jace/Clary apagou esse fogo sem muita dificuldade. O mesmo não se repetiu em Anjo Mecânico - da pré-série - que possui o primeiro triângulo amoroso que já li onde todos os vértices REALMENTE se conectam. Mas deixemos isso para outra review, né?)

Apesar do final do livro ter uma certa vibe de plot twist da Usurpadora de Star Wars de novela das oito, não desaponta. Muito pelo contrário, deixa o leitor duvidando de si mesmo e querendo muito ler o próximo livro, tanto por querer saber o que vai acontecer, quanto para confirmar suas suspeitas em relação à reviravolta.

Enfim, é um ótimo livro, e os três primeiros volumes da série estão entre os meus romances Young Adult favoritos!

Nota 4,5/5

P.S.: Na onda dos livros Young Adult virando filmes em Hollywood, esse aqui também foi comprado e já está em fase de produção. O casal protagonista já foi decidido, com Lily Collins (aquela de Priest e Espelho, Espelho Meu) como Clary Fray, e Jamie Campbell Bower (o rei Arthur da série Camelot) como Jace Wayland. No início, as fãs ficaram muuuuuito desgostosas com a escolha do Jace, porque o headcanon de todas nós já era o Alex Pettyfer (que, sinceramente, é a perfeita descrição do Jace, com exceção dos olhos). No entanto, a Cassie Clare já andou comentando que o teste do Jamie para o papel foi realmente incrível. E o próprio Jamie, quando perguntando numa entrevista sobre o que ele esperava de atuar como Jace, virou para a câmera, colocou uma cara de Gato de Botas do Shrek e disse: "give me a chance". Não sei vocês, mas EU me derreti toda. Fora que, dizem os boatos, o Alex Pettyfer descartou esse papel para fazer I am Number Four; perdeu meu respeito!


Torço por você, Jamie! Você atua muito melhor e o seu sotaque é mais forte e bonito!

(Agora, a minha vida seria completa se o Adam Lambert ou o Jared Leto fizessem o Magnus Bane. Só dizendo.)

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