Gente, a Bertrand Brasil quer me deixar louquinha de ansiedade. Sabem porque? Porque ela vai lançar três - TRÊS! - livros da Nora Roberts só nesse primeiro semestre de 2013!
O primeiro é Lírio Vermelho, o último livro da Trilogia das Flores (já resenhei o primeiro aqui).
Sinopse:
Quando Hayley viaja para Memphis para trabalhar com sua prima, Roz, ela não tem intenção alguma de se apaixonar. Mas logo se vê perplexa, ao notar que sente uma forte atração pelo filho de Roz. Roz descobre que Amélia, o fantasma da Noiva Harper, se apossou de Hayley. Agora, precisa dar um ponto final a isso.
Uma criança ameaçada lembra Tenente Eve Dallas de sua própria infância dolorosa em uma série de suspense romântico do futuro próximo, escrita por Nora Roberts sob o pseudônimo de j. d. Robb. Alguém assassinou todos na casa Swisher, com exceção de Nixie de nove anos de idade, que furtivamente saiu fora da cama para tomar uma bebida no meio da noite. Convencida de que só ela (e um sistema de segurança de alta tecnologia do Roarke seu marido) podem manter seguros, Eve abriga Nixie a garotinha assustada em sua própria casa. A avaliação de Eve da situação revela-se terrivelmente correta quando outros atribuídos para proteger a criança começam a aparecer mortos.
A história é de uma diva do cinema , Eve Benedict, sex symbol, com aquele tipo de voz rouca e sedutora, que ganhou 2 Oscar, tem 4 ex-maridos e uma legião de fãs que a amam. Ela conhece segredos e escândalos de todos e resolve escrever suas memórias. Mas ela também tem seus segredinhos obscuros. E um enteado sexy. Claro que teremos uma mocinha para esse enteado bonitão. Mesmo Hollywood pedindo que Eve não escrevesse esse livro, Eve tem suas razões para fazê-lo. Ela vai em frente e contrata a biógrafa Julia Summers, que é a mocinha, que tem um filho de 10 anos e cuida dele sozinha e tem seu coração guardado num cofre para não se envolver com ninguém. E mesmo Julia não gostando dos holofotes de Beverlly Hills, ela parte de Conectcut, de sua vida tranquila e vai para a cidade do glamur, dos artistas de cinema, dos milionários cheios de segredos e escândalos. Lembra do enteado sexy de Eve? Ele vai desafiar Julia, claro. E além dele, Julia terá de lidar com os inimigos de Eve que não querem o livro publicado e que até ela corre perigo de vida, pois esses inimigos farão qualquer coisa para que esses segredos não venham a tona. Amor, um pouco de mistério e a receita de sucesso da Nora para escrever.
Gostaram?
Eu já estou contando os dias para ter e ler todos!
Quando pedi a Camila para criar essa seção no blog, minha intenção era comentar sobre os livros mais cotados do momento, no exterior, mas ainda sem previsão de publicação no Brasil. No entanto, acho pertinente estender o escopo do « Estão lendo lá fora » para livros de outros países que foram subestimados pelas editoras brasileiras e são relativamente desconhecidos por essas bandas.
O primeiro exemplo que trago a vocês é o livro The Blue Sword, escrito por Robin McKinley. Para vocês terem noção, o livro é tão antigo e desconhecido que não possuía sequer registro no Skoob; eu mesma tive que adicioná-lo ao acervo do site, logo depois de terminar a leitura.
Harry Crewe é uma orfã que se muda para Damar, país desértico dividido pelos Patriotas¹ e pelo mágico e reservado Povo das Colinas². A vida da garota é quieta e ordinária - até a noite em que ela é sequestrada por Corlath, o Rei do Povo das Colinas, que a leva até as profundezas do deserto. Ela não conhece a língua do Povo das Colinas; não sabe porque motivo foi escolhida. Mas Corlath sabe. Harry deve ser treinada nas artes da guerra até ser tão habilidosa quanto qualquer um de seus homens. Será que ela tem a coragem de aceitar seu verdadeiro destino? (traduzido do Goodreads pelo Colecionadores de Histórias)
¹ Homelanders | ² Hillfolk
A sinopse desse livro definitivamente não faz jus ao brilhantismo da história; o enredo vai muito além da impressão de "romance de ficção" que é passada por esse resumo. O livro é de 1982, mas tem uma abordagem atemporal de assuntos como independência feminina, laços familiares, escolha de prioridades, mudanças radicais de vida e outros tópicos que ainda são bastante visados em pleno século XXI. Se fosse publicado hoje em dia, provavelmente ganharia fama de Young Adult, mas existem algumas diferenças que separam essa história da maioria dos YAs do novo século, em especial os personagens e o ritmo dos acontecimentos.
A protagonista, Harry - apelido para Angharad, nome épico, fala sério - Crewe é uma moça comum. Não estou falando de comum do tipo narrador-em-primeira-pessoa, digo-que-sou-feia-mas-na-verdade-sou-DESLUMBRANTE-e-DIVOSA; Harry realmente é uma menina comum. Nem linda, nem feia, sem muitas características que a destaquem das demais moças de seu novo lar. E é isso que faz dela uma personagem tão interessante: todos os feitos que ela realiza ao longo do livro são fruto de muito esforço, físico e mental, e de muita dedicação. É impossível não sentir simpatia por ela e torcer com fervor para que tudo corra bem.
O outro portagonista, Corlath, está bem longe de ser o adolescente misterioso e bonito que figura em todos os romances do gênero. Para começar, ele é beeeeeem mais velho do que a Harry - não lembro exatamente a idade porque já faz um tempo que li, mas é algo na segunda metade dos vinte, perto dos trinta - e é um adulto que leva suas responsabilidades a sério. Ele é austero, não dá brecha para frescura e tem uma vibe deliciosa de Príncipe do Egito mesmo sendo bastante altruísta. Quando descrevem Corlath como Rei, não é brincadeira: ele realmente governa o Hillfolk tão bem quanto pode.
Aliás, é por ser um bom governante que ele sequestra a Harry e a leva para o deserto com ele (nem vou contar o motivo, porque é um dos momentos mais ansiosos e engraçados da história!). A pobre moça, tendo vivido toda a infância e adolescência em um país similar à Inglaterra pré-Revolução Industrial, estranha muito a vida nas areias de Damar, mas sua situação como orfã que não tem nada a perder faz com que ela aprecie com gosto a própria vida e as circunstâncias que a cercam.
Recomendo a leitura por ser rápida, dinâmica, com ótima evolução, clímax emocionante e final muito satisfatório! Quem gosta de imergir em novas culturas e ler histórias de coming of age vai simplesmente amar esse livro!
Riscando mais um dos itens do DRD 2013 – o item 15 – trago para vocês a resenha de um clássico da literatura
mundial e no final tem um vídeo em que falo sobre o livro. ;)
Editora: Best Bolso
Páginas: 431
Ano: 2011
Sinopse (Skoob):
Jane Austen mais uma vez nos surpreende com seu olhar mordaz
e seus personagens cativantes ao retratar a sociedade inglesa do início do
século XIX.
Desde pequena Fanny Price vive com parentes ricos em
Mansfield Park, em uma bela propriedade no interior da Inglaterra. Inteligente
e estudiosa, aproxima-se de Edmund, o único entre seus primos que compartilha
sua paixão pelos livros, e passa a nutrir sentimentos profundos por ele. Com a
chegada dos Crawford á vizinhança, porém, Edmund apaixona-se pela cínica Mary,
e o volúvel Henry Crawford encanta-se por Fanny.
Fanny Price era uma entre oito filhos da terceira irmã
dentre três mulheres. Sua mãe casou à revelia das irmãs com um homem que
preferia a bebida ao trabalho e por isso formou uma família que vivia com
poucas condições e isolada das irmãs.
Quando Fanny completou dez anos e depois de as irmãs
voltarem a se falar, a Sra. Norris – que se casou relativamente bem e não teve
filhos – propõe à irmã que se casou com Sir Thomas, Lady Bertram, que eles
tragam um dos filhos da Sra. Price para dar uma ajuda à irmã mais necessitada.
Assim, Fanny se mudou para Mansfield Park onde passou a morar com os Bertram e
seus quatro filhos: Tom, Edmund, Maria e Júlia.
Sua vida com os tios não era perfeita, mas com a atenção e o
carinho de seu primo Edmund e suas conversas sobre livros ela levava a situação
numa boa. Até que o Sr. Norris falece e uma nova família se muda para a casa da
paróquia de Mansfield Park.
A Sra. Bertram é uma mulher que se importa mais com seus
próprios luxos e seu cão em detrimento dos filhos. A Sra. Norris é aquela que
se mostra muito correta, cheia de dedos quanto às regras da sociedade e
muquirana, usufruindo da falta de vontade da Sra. Bertram em aparecer aos
bailes para acompanhar as sobrinhas e se misturar com lordes e ladies. Sir Thomas
é o típico senhor da família, austero e que não demonstra seus sentimentos.
Edmund é um doce. Cavalheiro e atencioso, é o único que
parece realmente se importar com Fanny. As Srtas. Bertram estão em busca de um
casamento proveitoso. E o primo mais velho é um boa vida.
A chegada dos irmãos do casal Grant – os vizinhos de
Mansfield Park – muda as coisas na vida de Fanny e seus familiares. A prima
mais velha, que já está noiva nesta época, fica atraída pelo Sr. Crawford,
assim como sua irmã Júlia. Os primos estão encantados pela Srta. Crawford e até
Edmund negligencia um pouco a jovem prima.
Eis as capas disponíveis no Skoob em minha ordem de preferência. ^-^
Fazia um bom tempo que eu não lia um clássico, então todos
os “Sr.”, “Sra.” e “Srta.” presentes me confundiram um pouco em alguns
momentos. Além disso, durante os diálogos nem sempre é fácil perceber quem está
falando com quem, pois não há uma identificação clara.
O que mais me chamou a atenção durante toda a leitura é que
eu demorei muito a me apegar a alguns dos demais personagens além da
protagonista. Digo isso, porque geralmente sempre tem um coadjuvante que atrai
minha simpatia e nesse livro só posso dizer que logo de cara já detestei uma
das tias enquanto a maioria dos outros personagens me era indiferente.
Porém, com o andar da leitura, alguns dos coadjuvantes se
destacaram e passaram a ser simpáticos à minha pessoa. Enquanto a dita tia
detestável ficou cada vez mais detestável. Rs
Então eu indico, principalmente depois de ler o final fofo e
redondinho, com a ressalva de que se você não gosta de livros com a leitura
mais lenta, evite Mansfield Park.
No turno da noite de um hospital no estado do Maine, o Dr.
Luke Findley espera ter outra noite tranquila com lesões causadas pelo frio
extremo e ocasionais brigas domésticas. Mas, no momento em que Lanore McIlvrae
— Lanny — entra no pronto-socorro, muda a vida dele para sempre. Uma mulher com
passado e segredos misteriosos, Lanny não é como as outras pessoas que Luke
conhceu. E Luke fica, inexplicavelmente, atraído por ela...mesmo sendo suspeita
de assassinato. E conforme Lanny conta sua história, uma história de amor e uma
traição consumada que ultrapassam tempo e mortalidade, Luke se vê totalmente
seduzido. Seu relato apaixonado começa na virada do século 19 na mesma
cidadezinha de St. Andrew, quando ainda era um templo puritano. Consumida,
quando criança, pelo amor que sentia pelo filho do fundador da cidade,
Jonathan, Lannyfará qualquer coisa para ficar com ele para sempre. Mas o preço
que ela tem de pagar é alto — um laço imortal que a prende a um terrível
destino por toda a eternidade. E agora, dois séculos depois, a chave para sua
cura e salvação depende totalmente de seu passado. De um lado um romance
histórico, de outro uma narrativa sobrenatural, Ladrão de Almas é uma história
inesquecível sobre o poder do amor incondicional, não apenas para elevá-lo e
sustentá-lo, mas também para cegar e destruir. E revela como cada um de nós é
responsável por encontrar o próprio caminho para a redenção.
Ladrão de Almas tem uma capa que chama a atenção.
Eu acho muito bonita, na verdade. (Aliás, faz séculos que não olho meu cacto,
acho que ele morreu... ¬¬ E isso não tem nada a ver com a história do livro...
rs)
A sinopse me deixou curiosíssima, acreditando que
seria um romance sobrenatural com ação, pessoas fugindo de outras e algo bem
obscuro, mas... A narrativa é um tanto lenta e um pouco confusa, porém – ao
mesmo tempo – a história me deixou intrigada. Então eu fui arrastando a leitura
por umas duas semanas (li vários livros no meio), sempre curiosa com o que ia
acontecer e na esperança de uma agitação, mas a narrativa continuou morna todo
o tempo.
Lanny, ou Lanore – como era chamada nos idos de
1810, é uma criatura sobrenatural que está viva há uns 200 anos. Na mesma hora
vocês vão pensar que ela é vampira. Eu também acho que seja, mas não tenho
certeza, porque durante a narrativa não é usado um termo exato para definir o
que ela e os outros iguais a ela são.
Bem... Lanny está no Maine, numa cidade esquecida
no meio da neve chamada St. Andrew. Esta cidade cresceu do vilarejo onde ela
nasceu e Lanore voltou para atender ao pedido de um amigo, mas não é aqui que a
história começa.
Tudo começa quando Lanny é levada ao hospital em
roupas ensanguentadas, pelas mãos da polícia local, acusada de assassinato. Ela
é atendida pelo Dr. Luke Findley e sente algo como uma conexão entre eles,
assim começa a contar sua história e a demonstrar sua imortalidade no intuito de
convencê-lo a ajuda-la a fugir.
Luke, que vinha sofrendo solitário depois de se
divorciar e se ver afastado das filhas e de ter perdido os pais, resolve ajuda-la
e não faz muitas perguntas, simplesmente vai fazendo tudo que a Lanny pede,
praticamente sem hesitar. Comportamento esse que não me convenceu, afinal ele é
um homem adulto e vivido, mas sai fazendo tudo que uma suposta assassina diz
mesmo sem estar sendo coagido? Realmente não fui convencida.
Essa é a parte da história que passa durante os
dias de hoje, mas isso deve ocupar apenas umas 100 páginas, eu acho. Os demais
capítulos são narrados por Lanny, enquanto ela conta como se tornou o que é e o
que fez para chegar ao suposto assassinato do qual foi acusada.
A lentidão do livro se dá justamente nessa
narrativa do passado, pois é apenas uma narrativa. Não me trouxe muita emoção. Há
momentos que deveriam ser tensos, mas não me abalaram. Outros que deviam ser
mais emocionantes, mas também não me enlevaram. Para fechar, o final é chato e
sem graça. Não sei se vou querer ler a continuação.
Resumindo, a história tem um potencial enorme,
mas – para mim – não foi bem trabalhada pela Alma Katsu.
E que título é esse? Nem combina com a
história...
Faz um tempinho que não posto o que vai sair por aqui, não é? Com o final/início de ano eu fiquei meio tonta com os lançamentos, mas isso não importa. rs Hoje vou mostrar o próximo lançamento da editora Valentina!
Alma? de Gail Carriger
Alexia Tarabotti enfrenta uma série de atribulações sociais, quiproquós e saias justas (embora compridíssimas) em plena sociedade vitoriana.
Em primeiro lugar, ela não tem alma. Em segundo, é solteirona e filha de italiano. Em terceiro, acaba sendo
atacada sem a menor educação por um vampiro, o que foge a todas as regras de etiqueta.
E agora? Pelo visto, tudo vai de mal a pior, pois a srta. Tarabotti mata sem querer o vampiro ― ocasião em que a Rainha Vitória envia o assustador Lorde Maccon (temperamental, bagunceiro, lindo de morrer e lobisomem) para investigar o ocorrido.
Com vampiros inesperados aparecendo e os esperados desaparecendo, todos parecem achar que a srta. Tarabotti é a responsável. Será que ela conseguirá descobrir o que realmente está acontecendo na alta sociedade londrina? Será que seu dom de sem alma para anular poderes sobrenaturais acabará se revelando útil ou apenas constrangedor? No fim das contas, quem é o verdadeiro inimigo, e... será que vai ter torta de melado?
Gente, a-d-o-r-e-i a capa! E vocês?
Me digam aí se desejam esse livro como eu e adicionem ele nas suas estantes do Skoob.
A linda Rosa Juvenil, Juvenil, Juvenil foi adaptada pelo Charles Perrault e pelos Grimm, entre outros. O Perrault foi o primeiro a contá-la, e dividiu a história em duas partes. Na primeira delas, começa tudo bonitinho que nem no filme da Disney, com a princesa nascendo e sendo amaldiçoada (por uma FADA, gente, a Malévola do filme é uma FADA, viu?) porque a fada ficou ofendida, e a outra fada fazendo o contrafeitiço para que a menina não morresse, só adormecesse.
A partir daí, começa a mudar: ela não vai viver escondida na floresta, o rei só manda proibir as rocas e queimar as existentes. No entanto, praga, quando jogam, sempre pega, e a princesa, aos quinze anos, acha uma roca e espeta o dedo. Ela adormece, o pai dela coloca o corpo desfalecido numa cama chique; aí aparece um anão com botas de sete léguas e invoca a fada-boa que fez o contrafeitiço, que aparece numa carruagem levada por dragões (???). A fada vai e "ah, a princesinha vai ficar se sentindo forever alone, deixa eu apagar todo mundo junto com ela e ser solidária e tal" (eu disse que fada tem um senso de moral meio louco? Taí o exemplo de "favor por impulso"). Todo mundo dorme e ela faz surgir mato e unha-de-gato ao redor do castelo. Passam-se cem anos.
Ilustração de Henry Meynell Rheam
E agooora vem a parte BOA: uma comitiva real passa pelo castelo, a galera fica curiosa e o príncipe resolve entrar e salvar a moça, porque, né, nada mais para fazer na vida. No conto do Perrault, o rapaz acha a princesa, se apaixona, e PUF!, o feitiço acaba. Só que na versão italiana, sem maquiagem boazinha, compilada por Giambatistta Basile, né bem isso que acontece, não. O príncipe chega e se apaixona pela beleza da moça, sim. Mas ela não acorda, não. Para ela acordar, o príncipe ESTUPRA a mulher, ela engravida, tem duas filhas gêmeas e uma delas chupa o espinho da roca do dedo dela. Aí ela acorda.
E isso não é da cabeça do Basile, não: há registros medievais (o romance Perceforest, publicado em 1528, por exemplo) dessa mesma história do príncipe encantado fazer sexo com a bela adormecida para ela engravidar e acordar. Pelo menos eles já eram noivos nessa história aí em cima, mas. Né.
E ainda tem uma segunda parte da história, que envolve a madrasta-ogra do príncipe perseguindo a princesa ex-dormente, mas isso é até normal se compararmos ao que veio antes.
(Curiosidade: a Disney colocou o nome da princesa como Aurora,
mas na musiquinha medieval que inspirou os contos, o nome dela é, na
verdade, Talia! Aurora é uma das filhas que nascem do evento sexual
adormecido.)
Essa aqui é até fielmente adaptada - quando a fonte não é da Disney. As versões falam da mãe da princesa desejando que nascesse uma menina branca como a neve e outros parâmetros de beleza, tem a filha, morre. A criança cresce, a madrasta maluquinha manda matar porque o espelho dela diz que a enteada é mais bonita, a coitada foge e o caçador não tem coragem de matar, essa coisa toda. O filme não mostra, mas a rainha do mal tenta o homicídio três vezes: primeiro com um laço de vestido que sufoca a moça; depois, um pente envenenado; e, por último, a famigerada maçã. Aí vem o príncipe, o beijo, ela acorda, casa, convida a rainha para o casamento.
E lá no casamento, a galera coloca uns sapatos de ferro-iron-maiden-incandescentes nos pés da velha e forçam ela a dançar com eles até ele morrer. Fim, felicidades ao casal.
O espelho que pode ter inspirado o Espelho Mágico
E eu nem mencionei que essa história foi baseada em fatos reais, aparentemente? Há casos na Alemanhade mocinhas destratadas pelas madrastas. Inclusive, quem assiste ao seriado Once Upon a Time deve ter percebido que o nome da Branca de Neve é Mary Margaret - é o nome de um dos exemplos reais, cuja madrasta tinha até um espelho mágico. A outra era Margarete von Waldeck, também alemã e, olha só, quase casou com o Felipe II da Espanha. Só que morreu antes; dizem que envenenada.
Margarete von Waldeck, uma das Brancas de Neve originais
Coisa Bizarra do Conto: TORTURA.
Cinderela
(Esse conto tem versão em quase todos os países e reinos e
culturas do mundo. Vou focar no "modelo europeu" porque não tem como
analisar tudo.)
Ê, laiá, a Escrava Isaura dos contos de fadas tem um começo de história consistente em quase todas as versões. É a filha de um cara bem sucedido, que se casa de novo com um a viúva que já tem outras filhas - infelizmente, é a negligência ou ausência desse pai que deixa Cinderela a mercê da nova esposa, trabalhando como escrava. Tem versão que o pai é príncipe/rei, tem versão que é mercador. Geralmente, a madrasta consegue casar com o homem por convencê-lo de que será uma boa mãe para a menina ou convencendo a própria Cinderela da vez que ela será uma boa esposa para o pai. BEM PAOLA BRACHO.
(É, eu sei, usando de novo, piada ficando velha, juro que vou parar)
Aí começa a coisa boa: a Disney matou o pai da Cinderela para justificar os maus tratos, mas as versões originais do conto geralmente têm o papai como vivinho da silva e vendo a filha vestida de trapos e virando a empregada da família. Sério.
Independente disso, depois que a Cinderela sofre que nem mocinha de novela e consegue, por magia, aparecer em um(ns) baile(s) com um(ns) vestido(s) lindo(s) e tal, e aí acontece aquela do sapato, temos um momento mágico de MUTILAÇÃO. É, as irmãs malvadas da Cindy cortam partes dos pés para fazer o sapato caber. Issaê. A mais velha corta os dedos, a mais nova corta o calcanhar; ambas fazem o sapato calçar o pé e viram noivas do príncipe, temporariamente, uma de cada vez, até ele perceber que O PÉ DELAS ESTÁ PINGANDO SANGUE. E o mais legal é que é a MÃE das moças que faz elas cortarem partes do corpo, olha que legal.
A Gata Borralheira, de Millais
E depois que o príncipe retardado finalmente acha o amor de sua vida, durante o casamento, as irmãs vão de dama de honra. No entanto, como são malvadinhas, vêm duas pombinhas do Céu para arrancar os olhos delas. Uma história realmente cativante.
A adaptação que nós vemos nos filmes origina da versão do Perrault, que é bem vanilla em comparação a essa acima descrita.
Coisa Bizarra do Conto: MUTILAÇÃO.
Chapeuzinho Vermelho
Depois que passei da primeira infância, costumava achar essa história sem graça, sabe? Cadê o príncipe encantado, cadê a fada, a bruxa, a magia, a coroa de princesa? Deixei esse conto mofar em um canto da minha mente e nunca mais pensei nele até o dia em que li uma das versões mais próximas do conto popular.
Gente, se você acha Chapeuzinho Vermelho uma história bobinha, NÃO ACHE.
Começo explicando que o conto surgiu, muito provavelmente, como uma forma de ensinar as moças de família a continuarem sendo moças de família. Isto é, elas não podiam "se perder na floresta", duplo sentido completamente intencional. Já achei até uns estudos antropológicos sobre a cor da capinha da protagonista: vermelho, a cor da paixão, luxúria, tentação. Pode ser relacionado a uma moça bonita que se enfeita e "atiça" os homens, por exemplo. Aliás, sabe o Lobo Mau? É uma metáfora, como vocês devem ter imaginado. É o homem estranho, que vai desviar a moça para o mau caminho, que vai estuprá-la, que vai sequestrá-la, algo do gênero. Em algumas versões ele é, inclusive, um lobisomem, e não um Lobo-Lobo.
Resumindo, há uma tonelada de conotações sexuais nessa história. E ela segue basicamente da mesma forma em todas as versões: a menina ganha a capa vermelha, e vai para a casa da vovó deixar comida de vez em quando. O Lobo Mau a observa e quer comê-la, mas tem medo de fazer isso em público (tão vendo a malícia da coisa?). Por isso, segue a Chapeuzinho pela floresta e se aproxima dela, que conta para o Lobo onde está indo.
E é aqui que o negócio fica uma delícia: nas versões mais antigas do conto, o Lobo chega na casa da Vovó antes da Chapéu. Mata a velhinha, prepara a carne, faz um cozidão daqueles, e espera. A neta chega, e o Lobo, fantasiado de Vó, oferece a comidinha gostosa para a menina. Que come, acha tudo uma delícia.
A CHAPEUZINHO COME A VÓ DELA.
Depois que ela termina, o Lobo vai e come a Chapeuzinho. Fim.
A galera começou a achar a história muito depressiva e passou a acrescentar finais alternativos, com a Chapeuzinho percebendo as intenções do Lobo e enganando-o para fugir, dizendo que está com dor de barriga ou, veja só, despindo as próprias roupas (TÃO VENDO A MALÍCIA) e fugindo enquanto o bichão fica embasbacado com o show.
O mais legal é que ela escapa sozinha nessas versões! Sem ajuda de ninguém. Muito mais interessante ver a protagonista se salvar por ser astuta do que virar mais um exemplo de donzela indefesa.
Falando nisso, o Lenhador
que salva a Chapeuzinho foi uma adição bem posterior às origens
desse conto. Acho que posso até afirmar que ele foi criado para tornar a
história menos macabra para as crianças, porque mesmo a versão do Perrault, que é bem mais leve e recente do que as medievais - e
não inclui o canibalismo - termina na morte da personagem principal. E acho que só não
inclui o canibalismo porque o Lobo engana a Chapeuzinho quando ela
pergunta as direções para a casa da Vó e faz ela se perder na floresta.
Ou seja, ela nunca chega lá e é comida no meio do caminho. (Ai, esse
duplo sentido está me matando.)
O conto é bem menos recreativo e bem mais lição de moral do que a maioria dos outros. A ideia geral é "não fale com estranhos porque é perigoso", o que serve tanto para criancinhas quanto para moças mais velhas que precisam andar sozinhas para algum lugar.
Conclusão:
Coisa Bizarra do Conto: CANIBALISMO. ESTUPRO. CONOTAÇÕES SEXUAIS JOGADAS NA SUA CARA.
Rapunzel
Esqueça o que você viu em Enrolados. Não tem nada a ver. A começar pelo fato da protagonista não ser princesa: ela era filha de um casal solitário que fez uma grande burrice: a mulher, quando finalmente engravidou, ficou com desejo de comer os nabos/<insira verdura ou legume aqui> do jardim da vizinha, que era uma FEITICEIRA. Péssima ideia, moça. Mas o marido dela teve que entrar no jardim alheio e roubar os nabos, porque a esposa estava deixando ele louco e eles queriam muito ter um filho e tal.
Obviamente, a feiticeira pega o homem no ato. Ele se desespera ao ser acusado de ladrão, e ela faz ele prometer entregar a criança quando nascer em troca da própria vida. A menina nasce, a feiticeira - chamada Gothel - batiza-a de Rapunzel e leva o bebê consigo. Ela cresce, vira uma menina linda de cabelos dourados e, ao completar doze anos, sua mãe adotiva encarcera-a no meio da floresta, em uma torre alta sem portas ou escadas, com um único quarto e uma única janela. Quando Gothel visitava, falava a célebre "Rapunzel, Rapunzel, jogue seus cabelos" e escalava pelas tranças da loirinha.
A torre da Rapunzel da Disney é coisa de sonho, né?
A parte princesa-da-Disney que a própria Disney não explorou é que o príncipe encantado acha a Rapunzel porque ela está cantando na torre dela. Poxa, a Disney FINALMENTE tinha a desculpa para fazer o dueto feliz que sempre existe nos filmes e preferiu fazer o protagonista escalar com uma flecha mas, okay. Enfim, voltando: a Rapunzel canta, o príncipe se encanta, fica de tocaia perto da torre e vê a Gothel subindo pelos cabelos. Aí repete o modus operandi e sobe a torre.
E agora vem a parte que destrói a infância rosada e purpurinada das meninas inocentes: que cês acham que o príncipe foi fazer na torre com a moça desacompanhada? Isso mesmo, SE-QUI-ÇO. Pelo menos dessa vez a outra parte estava ciente e consentindo. Consentiu tanto que engravidou depois de um tempo. Na primeira versão dos Grimm, é por causa do baby que a Gothel descobre as escapadas: a Rapunzel reclama que as roupas estão apertadas. Coitada, como que ia saber, né.
Família feliz, weee!
Essa versão foi censurada e os Grimm trocaram o aumento de peso da Rapunzel pelo aumento de peso da Gothel: a menina pergunta porque diabos é tão mais difícil subir a bruxa velha do que subir o príncipe pelos cabelos. Eu, particularmente, acho que a Gothel rodou a baiana porque foi chamada de gorda, mas a história diz que é porque a Rapunzel estava se encontrando com o príncipe.
O resto é de conhecimento geral: a velha doida corta os cabelos da menina, joga ela no meio do mato, espera o príncipe vir de novo na torre e de lá ele cai, ou empurrado, ou pelo susto que levou. Se taca nos espinhos e fica cego. Aí vaga pelo mato por um tempão até ouvir o canto de rouxinol da Rapunzel e segui-lo.
Eles se encontram, ela chora, ele se cura, os dois se casam, fim. Ah, nesse meio tempo ela deu a luz a gêmeos. Rapunzel guerreira, boto fé.
Coisa Bizarra do Conto: GRAVIDEZ ADOLESCENTE (que nem a adolescente sabia, porque, né, coitada, não tinha educação sexual.)
A Pequena Sereia
Meu fa-vo-ri-to e, certamente, a história da lista mais profundamente deliciosa em suas metáforas. Não é tão antigo quanto os outros, e sua autoria pode ser apontada diretamente a Hans Christian Andersen; ou seja, não é um pedaço de folclore escandinavo, mas sim uma obra da autoria de um escritor específico.
Antes de mergulhar na história original é preciso fazer uma observação pertinente sobre o Andersen: ele era bissexual e estava apaixonado por um rapaz chamado Edvard Collin quando escreveu essa história. Em 1836. Nem preciso dizer que relacionamentos amorosos entre pessoas do mesmo sexo eram um tabu de proporções bíblicas naquela época; oras, ainda é um assunto extremamente polêmico mesmo agora, no século XXI. Ainda assim, Andersen cortejou Collin, e inclusive falou: "Eu anseio por você como se você fosse uma bela garota calabriana".
O Collin não era bi, nem homo, estava noivo de uma moça e ficou enojado com a declaração de Andersen - o que, obviamente, quebrou o coração do escritor. E foi aí que nasceu A Pequena Sereia: Andersen escreveu a história como uma carta de amor a Collin e, na minha humilde opinião, foi uma das cartas de amor mais bonitas e melancólicas que eu já li.
Quem só conhece a versão da Disney e as que surgiram baseadas nela podem até não estar entendendo como aquela história feliz pode ser uma alegoria ao amor frustrado de um bissexual, mas é fácil ver os paralelos entre a situação de Andersen e a Pequena Sereia quando se conhece a história original.
A Pequena Sereia
O princípio das versões é basicamente o mesmo: uma sereia que se apaixona por um humano e deseja ir à terra firme para tentar concretizar seu amor. Só que as adaptações infantis tiraram muitos detalhes importantes desse início, como o fato das sereias não possuírem almas - uma clara alusão ao dogma cristão que considera homossexuais expurgados de espírito divino. Além disso, as sereias do conto só podem subir à superfície quando completam quinze anos, ao contrário do que se vê quando Ariel sobe quando bem entende, contanto que seja discreta. (Se bem que ela tem dezesseis anos, vai ver a permissão é eterna depois dos quinze?)
A reviravolta da história é a mesma nas duas versões: a mocinha sobe, vê um navio com um príncipe bonitão dentro, cai de amores à primeira vista; aí vem a tempestade que destrói o navio e a Pequena Sereia salva a vida dele. Fica na praia velando o príncipe desacordado até que aparece uma menina de um templo próximo. Nem o príncipe, nem a outra humana descobrem a verdadeira heroína.
A partir daqui, a Disney começou a colocar nuvens cor-de-rosa para tapar a tragédia anunciada da história, e as duas divergem muito.
No conto de Andersen, a protagonista volta para o mar, impressionada com tudo, e pergunta para a avó sobre os humanos. A velhinha explica que os homens vivem muito menos do que os trezentos anos do povo do mar, mas que possuem almas imortais (referência à vida eterna dos Cristãos após a morte). A princesa começa a desejar MUITO ficar com o príncipe e, vejam só, ter uma alma imortal. Ou seja, não é nem que ela queira ser "parte de seu muuuuundo", ou anseie apenas pelo amor do príncipe. Ela quer a humanidade, a alma.
E é aí que entra a bruxa do mar. Bem diferente da Úrsula do filme animado, a personagem do conto é sincera e grave. É a própria Pequena Sereia quem a procura, sem qualquer coerção ou sedução. Ao ser perguntada sobre o desejo de virar humana, a bruxa é bem direta quando explica que há essa possibilidade, mas sob um preço altíssimo.
Cooooraaações infeliiiizeeeeees~! ♫
A Úrsula tomou a voz de Ariel depois de muito convencimento. Já a bruxa do má listou várias condições sem embelezar nada, e elas eram:
A sereia perderia sua língua. Não é a voz, é a LÍNGUA. Ela fica sem língua e, consequentemente, muda, porque sua voz era a mais bela de todas.
Ao fazer efeito, a poção agiria como se a sereia "fosse trespassada com uma espada". E você aí reclamando da vacina de tétano.
E depois de fazer efeito, apesar de conferir à sereiazinha um belo par de pernas que dançariam melhor do que quaisquer outras, haveria um efeito colateral eterno: ao andar, a sereia sentiria como se tivesse caminhando sobre lâminas afiadas. Ou seja, ela pode até andar, mas cada passo traria uma dor excruciante.
Por fim, ela só conseguiria a alma imortal se recebesse um beijo de amor verdadeiro E se o príncipe a amasse a casasse com ela, porque uma parte da alma dele passaria a ser dela.
SE o príncipe se casasse com outra mulher, no amanhecer do dia seguinte a sereia viraria espuma e morreria de coração partido.
Não é uma boa propaganda, certo? Só alguém muito louco seguiria em frente, concordam? Mas a Pequena Sereia aceitou as condições, mesmo assim, e foi para a superfície. Maluquinha da silva.
Qual é o seu problema, Príncipe? Olha como ela é FOFA.
Ela encontra o príncipe, que fica encantado com a beleza e a dança dela. Eles ficam amigos, e ele adora vê-la dançar. Por isso, ela dança, mesmo sofrendo que nem uma condenada. Tudo indo muito bem, até que o pai do cara manda ele se casar com a princesa do reino vizinho. O príncipe dá um piti, dizendo para sua amiga sereia que só vai casar com a menina do templo que o salvou e, TCHANRAN, é isso mesmo! A princesa noiva é a menina do templo! Olha que conveniente.
Ocorre o casamento, o coração da sereiazinha se quebra e ela aguarda o seu destino desgraçado com muita tristeza até que suas cinco irmãs aparecem nas águas que cercam o navio onde eles estão. Elas contam que visitaram a bruxa do mar e cortaram os cabelos longos em troca de uma faca que reverteria o processo da poção: se a Pequena Sereia empalasse o peito do príncipe com a tal faca e deixasse os pingos de sangue caírem aos seus pés humanos, tornaria a ser uma sereia e voltaria ao reino marinho com sua família. Todo o sofrimento acabaria, e ela viveria os trezentos anos de vida de seu povo.
O sacrifício das irmãs
A Pequena Sereia pega a faca e se aproxima do príncipe adormecido ao lado da esposa. Não consegue matá-lo. Ao amanhecer, se joga no mar e se dissolve em espuma.
Bem, era assim que o conto acabava, originalmente. No entanto, para passar uma lição de moral às crianças - era na período Vitoriano, e disciplina tinha muito valor para a Rainha Vitória - Andersen acrescentou que a sereiazinha não desaparecia, e sim virara uma "filha do ar", um tipo de ninfa, por causa de seu enorme desejo em conseguir uma alma. Nessa forma, ela precisaria viver fazendo boas ações por trezentos anos para conseguir uma alma imortal. E ainda tinha uma chantagem aos leitores, porque cada vez que uma criança agia bem comportada ela subtraia um ano desse tempo, enquanto cada malcriação aumentava um dia no prazo e ainda fazia a pobrezinha chorar!
Basicamente, Andersen imaginou algo assim...
... Mas teve que escrever algo assim.
As metáforas de Andersen para essa história são belíssimas. A Pequena Sereia é ele mesmo, amarrado a um mundo onde seus desejos mais profundos - o amor de Collin - são inalcançáveis. Collin é o príncipe, involuntariamente cruel por não entender os sentimentos da sereia. Não importa o que Andersen sacrificasse por seu amor, nada seria suficiente e, no fim das contas, o príncipe/Collin casou com uma outra moça sem se importar muito com os sentimentos da sereia/Andersen. O fato da sereia mudar de forma tantas vezes é uma alusão à identidade mercurial de Andersen e de todos os seres humanos.
A dor da Pequena Sereia é, também, um aviso: não vale a pena fazer sacrifícios tão altos em nome de pessoas que não retornam o sentimento e a consideração.
A adaptação da Disney passou longe desse turbilhão de sentimentos e drama, como podem ver. Mas existe uma outra adaptação animada bem fiel feita (wait for it) pelos japoneses: Anderusen Dōwa Ningyo hime, com o final depressivo e a melancolia e tudo o mais.
Se eu fosse a Pequena Sereia, não teria desistido da minha cauda e da minha voz mágica NEM. A. PAU.
Coisa Bizarra do Conto: MUTILAÇÃO. DOR. MAIS DOR. TENTATIVA DE ASSASSINATO PREMEDITADO. FINAL MAIS AMARGO DO QUE COMER FORMIGA.
Já estão suficientemente traumatizados?
Pois é, Colecionadores, os momentos fofinhos de suas infâncias têm origens bem depressivas e macabras. E olha que eu só fucei os mais famosos e nem mexi naqueles envolvendo gigantes comedores de criancinhas. Dá para criar uma montanha de filmes de terror só seguindo a linha pré-Grimm dessas histórias.
Não sei porque as pessoas estão reclamando tanto da recente leva de readaptações de contos de fadas para o cinema, aliás. Não é como se a Disney detivesse todos os direitos sobre eles, e os filmes live action estão bem mais próximos da qualidade sombria das primeiras versões.
Se estiverem interessados em conhecer melhor os contos de fadas sem censura, sugiro procurar livros de contos russos, escandinavos e irlandeses. Garanto que vocês não vão achar nem a Sininho fofinha - e olha que o J. M. Barrie fez as fadas de Peter Pan serem bem mais legais do que as filhas-da-mãe sem coração das lendas.
E viveram felizes para sempre!
P.S.: Falando em contos de fadas e Hans Christian Andersen, vocês estão sabendo que a Disney está adaptando A Rainha da Neve para o cinema? É isso aí, depois de Valente, vamos ter, novamente, um conto de fadas da tradição Disney. Quero ver só se vão diminuir os sentimentos doloridos do conto original.
P.P.S.: "Entretanto, uma sereia não tem lágrimas e, por isso, sofre muito mais." - A Pequena Sereia, Hans Christian Andersen. Só deixando isso aqui para partir corações.
Desconstruindo os contos de fadas: origens nada infantis
Peço desculpas antecipadas, porque provavelmente vou destruir a infância de alguns de vocês. Afinal, todo mundo já leu, ouviu ou assistiu alguma versão dos contos de fadas mais famosos. Não importa se, hoje em dia, você é um machão que assiste Dexter e pratica MMA, é grande a probabilidade de você ter chorado assistindo Bambi quando tinha quatro anos. Os contos de fadas fazem parte da infância, período que a maioria dos psicólogos, psiquiatras e pedagogos concordam ser axial para a formação de caráter, o alicerce da personalidade dos seres humanos. São usados no processo de alfabetização, na explicação dos papéis sociais (pai, mãe, irmãos, cônjuges), no estímulo da criatividade e da imaginação. Representamos essas histórias nas peças de colégio, nas primeiras redações, quando aprendemos a desenhar - enfim, é um pedaço muito significativo da vida de uma criança.
No Brasil, são mais conhecidos os contos de fadas ocidentais, vindos em sua maioria da Europa, com fadas, duendes, gigantes, feitiços, castelos e dragões como temas recorrentes desses enredos. É claro que outras culturas, distanciadas da influência europeia, também criaram suas versões de contos fantásticos: os índios brasileiros criaram muitas lendas, como a do boto e a do boitatá; o Oriente Médio presenteou o mundo com centenas de contos incríveis, depois unidos sob o véu de Scheherazade, que contava histórias para distrair o rei persa com que casara; a China, as Coreias e o Japão têm inúmeras histórias sobre deuses, espíritos e dragões... Enfim, qualquer grupamento humano provido de cultura acaba por criar e perpetuar esse tipo de história, cada uma delas interessante em sua singularidade.
Os contos de fadas sempre serão os livros mais bonitos da existência, verdade ou verdade?
Partindo dessa premissa, é possível considerar um conto de fada como conto folclórico. Entretanto, falando especificamente dos contos de fadas ocidentais, essas histórias já transcenderam significativamente essa classificação de "folclore". Não estão mais limitados geograficamente porque tomaram o mundo, atingindo a todos os países e continentes que foram colonizados ou influenciados pelas potências europeias. Acabaram virando até mais populares do as histórias nativas, especialmente depois do surgimento do cinema. Ou melhor, da Disney.
Então, é possível dizer que, atualmente, pensar em contos de fadas tem a reação pavloviana de forçar a pessoa a pensar em Branca de Neve e os Sete Anões, A Bela e a Fera, Bela Adormecida e Cinderela ao invés de Boitatá e Boto Rosa. Tudo o que não é conto de fadas europeu se tornou "lenda" com o tempo. Afinal, um peixe que vira gente e um boi em chamas são muito menos glamourosos do que castelos, princesas e tesouros.
No entanto, a concepção mágica e benigna que adquirimos a respeito desses contos de fadas europeus é nada mais, nada menos que um belo eufemismo. Nas versões originais, a máxima do "viveram felizes para sempre" geralmente custa muito caro a todos os envolvidos - quando se realiza. As histórias que nos apresentam na infância como contos infantis não passam de versões polidas e politicamente corretas de histórias verdadeiramente macabras.
Nomes Têm Poder
Tal ilusão começa a ser construída no próprio nome desse tipo de história. Quando se fala em contos de fada, lembramos imediatamente de pequenos seres alados que cuidam de flores ou da fada madrinha que realiza desejos, não é? Essa concepção de "fada" não tem nada a ver com as origens desses seres lendários. O folclore das fadas europeias muito raramente se aproxima da gordinha de azul que canta Bibbidi-Bobbidi-Boo e transforma abóboras em carruagens. Nã-nã-ni-na, elas estão MUITO LONGE de serem beatíficas e altruístas. Os filmes dos anos oitenta para cá, especialmente os da Walt Disney Pictures, criaram todo um conceito de fada para encantar crianças, enquanto, antigamente, as fadas estavam junto ao Lobo Mau e às Madrastas Malvadas no time dos personagens criados para assustar e garantir a obediência dos pequenos.
Quem já leu Os Instrumentos Mortais da Cassandra Clare ou a série Terrível Encanto da Melissa Marr sabe do que que estou falando. Os livros de sobrenatural urbano mais adultos, como Mercy Thompson e Sookie Stackhouse, são ainda mais diretos: as fadas do folclore são seres poderosos e implacáveis. Vivem centenas de anos, têm um conceito de tempo completamente distinto do nosso e consideram os seres humanos da mesma forma que uma pessoa considera um aquário ornamental. Não é a intenção delas ajudar ninguém; elas podem tolerar os homens, caminhar com eles, fazer favores por impulso e até mesmo se apaixonar por alguém da nossa espécie, mas certamente não são anjinhos a respeito. Existem MUITOS relatos folclóricos de pessoas ficando presas em um véu de fadas por anos, caindo em feitiços horríveis por motivos torpes, destruindo a própria vida em troca de um desejo realizado e outros eventos nessa linha. Isso quando a fada não possui uma dieta carnívora de CARNE HUMANA, é claro. Sabe a bruxa de João e Maria? Pois é, não era uma bruxa.
Olha a fada fazendo a Egípcia para vocês, reles mortais.
Na verdade, esse nome, "contos de fadas", é razoavelmente recente, criado no
século XVII pela Madame d'Aulnoy. Entre o século XVIII e XIX, houve a associação dessas
histórias às crianças. Antes disso, eram contados para
audiências adultas e infantis, sem distinção.
Então, se alguém falasse de contos de fadas, no contexto original, imagino que as crianças deviam ficar apavoradas. Aposto que elas gostariam de ter Baigon em casa na Idade Média, e nem só por causa da Peste Negra. E ainda nem comecei a falar dos contos propriamente ditos.
Os Originais
A maioria dos contos de fada europeus são atribuídos aos Irmãos Grimm, que compilaram um número impressivo de histórias populares em forma de romance escrito. No entanto, houveram muitas outras compilações ao longo dos séculos, já que os contos originais são bastante antigos. Além disso, vários autores divergiam da tradição e criavam seus próprios contos de fadas que, com o tempo, se tornaram tão célebres quanto os de origem folclórica, como é o caso de Hans Christian Andersen.
(Abrindo um parênteses para aumentar o conhecimento de mundo de vocês: o livro Contos Fantásticos do Andersen era chamado, em dinamarquês, de Eventyr. QUE. NOME. LEGAL.)
Independente da fonte, uma coisa é certa: os compiladores mais famosos certamente amaciaram a aspereza das histórias originais. Os próprios Irmãos Grimm tiveram que reescrever os livros originais porque os contos das primeiras versões não eram considerados adequados para crianças. Foram retirados muitas conotações sexuais, violência explícita, crueldade, tortura, racismo, assassinato e até canibalismo.
Na próxima quarta, deixem-me começar a macular a infância de vocês destrinchando os exemplos mais famosos e queridos do gênero, começando pela Bela Adormecida e terminando com a minha favorita, que é A Pequena Sereia.
Quando uma mulher misteriosa chamada Katie aparece
repentinamente na pequena cidade de Southport, na Carolina do Norte,
questionamentos são levantados sobre seu passado. Linda, mas discreta, Katie
parece evitar laços pessoais formais até uma série de eventos levá-la a duas
amizades relutantes: uma com Alex, o viúvo, com um coração maravilhoso e dois filhos
pequenos, a outra com sua vizinha muito franca, Jo. Apesar de ser reservada,
Katie começa a baixar a guarda lentamente, criando raízes nessa comunidade
solícita e tornando-se próxima demais de Alex e de sua família. No entanto,
quando Katie começa a se apaixonar, ela se depara com o segredo obscuro que
ainda a assombra e a amedronta: o passado que a deixou apavorada e a fez cruzar
o país para chegar no paraíso de Southport. Com o apoio simpático e insistente
de Jo, Katie percebe que deve escolher entre uma vida de segurança temporária e
outra com recompensas mais arriscadas... e que, no momento mais sombrio, o amor
é seu único refúgio.
Por mais que eu geralmente peça epílogos ao final de livros
que gosto, principalmente de romances, acho que em Um Porto Seguro ele praticamente faz falta. O que custava o Sparks
ter escrito mais duas paginazinhas inocentes e felizes?
Meu principal medo durante a leitura desse livro não foi
chorar com a história, foi que o Nicholas Sparks avacalhasse com o casal pelo
qual eu já torci logo de início, ou fizesse algo com uma das crianças. Que bom
que ele não fez isso, ou eu teria rebolado o livro na parede. Sem brincadeiras.
E porque eu pensei que ele faria algo de ruim com alguém? Porque
ele é um autor que gosta de separar o casal principal, quer dizer, eu só li Um Amor para Recordar antes desse, mas
todo mundo comenta.
Enfim, deixando meu pré-conceito (de conceito prévio e
não de discriminação) de lado, vamos falar um pouco de Um Porto Seguro.
Katie se mudou para Southport e se mantem longe de todos,
indo apenas ao trabalho e fazer compras para sua subsistência. Seu comportamento
gera um certo mistério e as pessoas da cidade, típica comunidade pequena em que
todos se conhecem, ficam curiosas e querem saber quem é aquela moça e o que ela
faz na cidade.
Alex mora em Southport há anos e cria seus filhos lá, duas
crianças adoráveis. Todos o conhecem e sabem de sua tragédia pessoal. Ele é
dono de um dos poucos mercados da cidade, o mais próximo da casa que Katie
alugou e onde ela faz suas compras.
Eles conversam apenas o necessário, pois Katie não quer
chamar a atenção de ninguém e Alex ainda está fechado em si mesmo e centrado em
cuidar de seus filhos.
(A pessoa demora semanas para resenhar o livro e aí
esquece o que queria falar... ¬¬)
Bem... Como em todo romance, eles vão se conhecendo mais
profundamente e se apaixonando, mas o passado de Katie vai interferir e tal.
Não foi essa parte clichê que me encantou, apesar de ser bem escrita e
envolvente.
Quando há crianças envolvidas, o que mais me atrai é a
relação da pessoa nova com elas e Katie é um amor com os filhos de Alex, então
eu fiquei mais encantada com isso do que com todo o resto.
E... Não sei mais o que falar, realmente...
Indico com toda certeza pelo belo romance que é!
Nota: 4/5 (é essa nota porque eu realmente-realmente queria
um epílogo!).
Quem me conhece e quem segue o blog desde o início sabe que além dos livros, eu também adoro filmes e cinema. E quem me conhece sabe que uma das minhas franquias favoritas que me faz pular de alegria e ficar doida para que a estreia chegue é Velozes e Furiosos! (Já falei disso aqui.)
Então eu tive que parar tudo e vir falar da estreia de 2013, mais especificamente em 24 de Maio de 2013: Fast & Furious 6!
Por quê eu vim aparentemente do nada falar de F&F? Porque no dia 03 agora, durante o Super Bowl, foi exibido o primeiro trailer do novo filme e está épico! Quer dizer, eu amei! Fiquei dando pulinhos e gritinhos e... Bem, aquela reação exagerada de fã. Sabem como é...
Antes do trailer, vou relembrar a história dos filmes anteriores, usando o mesmo texto que escrevi em 2011, com algumas poucas alterações...:
Velozes e Furiosos (The Fast and The Furious): Brian O’Conner (Paul Walker) é um policial disfarçado que está investigando Dominic Toretto (Vin Diesel) e sua gangue de ladrões de carros e peças e termina se envolvendo com eles. Brian se envolve também com Mia Toretto.
Mais Velozes Mais Furiosos (2 Fast 2 Furious): Dom e a gangue não aparecem e nós conhecemos Roman Pearce, amigo de infância de Brian e que passou anos preso porque Brian lhe entregou. Brian está fora da polícia. Eles dois são contatados pela polícia para se infiltrarem na equipe de Carter Verone e juntarem provas contra ele. Já há uma policial disfarçada como amante do cara e Brian se sente atraído por ela.
Velozes e Furiosos – Desafio em Tóquio (Fast & Furious - Tokyo Drift): nesse terceiro filme temos um núcleo de personagens totalmente diferente e desafios diferentes. Enquanto nos outros filmes há corridas, nesse o desafio é fazer drifting. Sean é americano e mora com a mãe, mas se mete em muitas encrencas e é expulso de mais um colégio, então a mãe o manda para o Japão para ele morar com o pai. Lá Sean conhece Twinkie, Han e Neela, além de arranjar briga com alguns membros da Yakusa. Dominic aparece no fim do filme.
Velozes e Furiosos 4 (Fast & Furious): volta o pessoal do primeiro filme. Dom e a galera dele estão na República Dominicana, mas o FBI está na cola deles e ele decide fugir para proteger Letty, sua namorada, e os outros. Mas ela é assassinada e ele volta para os EUA e cruza de novo o caminho do Brian, que voltou a ser agente do FBI.
Velozes e Furiosos 5 - Operação Rio (Fast Five - Rio Heist): continuam presentes os personagens do primeiro filme, com novas presenças. Brian agora é fugitivo da polícia, assim como Dom, e estão juntos na fuga. Brian e Mia, irmã de Dom, estão escondidos no Rio de Janeiro. Nesse filme, eles encaram um empresário corrupto e ainda têm que se esquivar de Lucas Hobbs, um agente federal que está na cola deles. [Spoiler]E a Letty está morta, mas aparece viva nas cenas extras entre créditos. [/Spoiler]
Com o final do sexto filme e a cena extra presente nos créditos ficou óbvio que haveria uma continuação e aqui está o trailer curtinho mostrado no intervalo do Super Bowl:
Então, pelo trailer, podemos ver que há uma misturinha de personagens. Quer dizer, Dom, Brian, Mia e outros do sexto filme estão aqui, mas vemos também o Han que estava em Desafio de Tóquio. (Página do filme no IMDb)
E aqui abaixo o vídeo que foi divulgado no dia 05 de fevereiro, como um trailer extendido: